Abdicação
Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços E chama-me teu filho.
Eu sou um rei Que voluntariamente abandonei O meu trono de sonhos e cansaços.
Minha espada, pesada a braços lassos, Em mãos viris e calmas entreguei;
E meu ceptro e coroa - eu os deixei Na antecâmara, feitos em pedaços.
Minha cota de malha, tão inútil, Minhas esporas, de um tinir tão fútil, Deixei-as pela fria escadaria.
Despi a realeza, corpo e alma, E regressei à noite antiga e calma Como a paisagem ao morrer do dia.
Fernando Pessoa
Nenhum outro escrito ilustra tão bem o meu sentimento de desistência sem nunca verdadeiramente desistir. Adoro este poema tão visual!
A verdade e o mito
Há 15 anos
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